sábado, 29 de março de 2008

As Mãos de meu Pai


As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplismente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah! Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas...
essa chama de vida - que transcende a própria vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.

Mário Quintana.

(Tá aí, o poema dele que me fez chorar.)

Te amo, Pai.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Normal.



Deveria ser natural falarmos de nossos sentimentos, não?
Afinal, somos movidos à isso.
Porque tem que ser tão difícil?
Porque tem que haver tanto medo?
Dizem que o medo mora perto das idéias loucas, mas isso não é loucura!
Ou é e ninguém me avisou?

Me encantei novamente por Quintana!
Que traço, que vocabulário!
Me peguei aos prantos quando li um dos seus poemas num livro que peguei na Unicamp.
(Que biblioteca! Passo horas perdida lá!)

"Da Felicidade

Quantas vezes a gente, em busca da aventura,
procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz".

Simples assim.

domingo, 23 de março de 2008

Virgindade


Na noite taciturna
Duas mãos brincam em uníssono
No escuro, caladas, quietas
Confidentes e secretas
Na forma infinita do amor
Inventam tesouro em baú humano
Em poucas palavras, tecem teias
de fina sutileza etérea.

Silêncio: um sussurro perdido se esconde no tempo.
(desconheço o autor.)